quarta-feira, 13 de maio de 2020

LIMITE ENTRE LEIRIA E BATALHA: 1916-20

Em 1917 foi efetuada a demarcação definitiva do concelho de Leiria com o de Batalha, respetivamente pelas freguesias de Santa Catarina da Serra e Reguengo do Fetal. Esta delimitação veio pôr termo a um processo conflituoso que já vinha, como se pôde apurar em documentação coeva, de finais do século XIX.  

Diversas atas foram elaboradas pela Junta de Freguesia de Santa Catarina da Serra sobre o assunto em apreço. Contudo, a mais completa encontrada até ao momento tem a data de 16 de maio de 1920. Segue-se a transcrição da mesma: 

Doc. 1 

1920, 16 de maio, Santa Catarina da Serra - reunião da Junta de Freguesia de Santa Catarina da Serra para se proceder à transcrição da ata da sessão ordinária da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Leiria, datada de 1 de junho de 1916, referente à demarcação da freguesia de Santa Catarina da Serra, c. Leiria, com a então freguesia de Reguengo do Fetal (hoje, São Mamede), c. Batalha.  

Livro 6 de atas da Junta de Freguesia de Santa Catarina da Serra (1910-22), AJFSCS-C, fls. 73-74. 

Pub.: [1] SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "Estrema Santa Catarina da Serra / São Mamede: 11.05.1920", in Luz da Serra, Santa Catarina da Serra, Ano XXXVII, n.º 445, outubro de 2011, p. 14, e [2] SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "Pedrinha Alçada: 1899-1920", in Luz da Serra, Santa Catarina da Serra, Ano XL, n.º 500, outubro de 2014, p. 14.  

No dia desasseis de maio de mil novecentos e vinte reuniu em sessão ordinaria a 
Junta de Paroquia, lida e assinada a acta da sessão anterior o presidente propos que se transcrevesse na acta da sessão de hoje a certidão da acta da sessão ordinaria da Comissão Executiva da Camara Municipal de Leiria, realisada em um de junho de mil novecentos e desasseis, na parte que dis respeito a demarcação da freguesia de Santa Catarina, concelho de Leiria com a do Reguengo, concelho da Batalha, proposta esta que foi aprovada por unanimidade, que é do teor seguinte: Certidão. Joaquim da Cunha Oliveira, chefe da Secretaria da Camara Municipal de Leiria. Certefico que a folhas trinta e seguintes, do livro numero quarenta e tres das actas das sessões da Comissão Executiva da Camara Municipal de Leiria, se encontra lavrada a acta da sessão realisada em um de Junho de mil novecentos e desasseis; e da mesma com relação ao requerido, consta do seguinte: Pelo senhor vogal Jose Francisco Alves foi apresentado um documento do teor seguinte:  
No dia vinte e quatro de janeiro de mil novecentos e desasseis no sitio do Algar de Agua da freguesia do Reguengo do Fetal, concelho da Batalha, onde se reuniram os [fl.73v] dois vogais das Camaras de Leiria e Batalha o excelentissimo senhor Jose Francisco Alves, e Antonio Maria dos Santos delegados pelas mesmas Camaras para divisão e demarcação das freguesias de Santa Catarina da Serra, concelho de Leiria, e freguesia do Reguengo do Fetal, concelho da Batalha. Ouvidos varios individuos de parte a parte e reconhecida probidade chegou-se ao acordo da dita divisão e demarcação pela forma seguinte: Colocar o primeiro marco da partida na extremidade da estrada nacional da Figueira à Batalha ao lado norte da mesma estrada, junto ao cerrado de Manoel Antonio, das Milhariças e que dista aproximadamente cento e quarenta metros à estrema da estrada empedrada; e colocar o segundo marco no sitio do cabeço chamado o Covão da Figueira, onde ficaram sinais com cavadelas, desviadas de uns penedos para o lado norte uns quinze metros aproximadamente, seguindo em retra até ao sitio do Alto da Lagoa do Boi distante do penedo nesse sitio uns quarenta e dois metros aproximadamente e perto do cerrado de Antonio Pereira das Neves, da Loureira, que dista aproximadamente uns desasseis metros depois segue tudo em reta para o antigo marco no sitio do Casalinho de onde segue tambem em reta para o Cabeço da Figueira. Esta medição deve compreender seis  marcos em toda a linha o que fica plenamente combinado tambem com os vários proprietários presentes das duas freguesias interessadas. Antonio Maria dos Santos. A colocação dos marcos a que se refere o documento foi feita em onze de maio findo com assistência do cidadão Antonio Maria dos Santos presidente da Comissão Executiva da Camara <Municipal> da Batalha pela forma seguinte:  
Primeiro marco. Marco inicial de forma triangular com a letra B defronte a estrada da Batalha a Vila Nova de Ourem e a letra L com a frente para o norte. Este marco fica situado ao lado esquerdo da estrada da Batalha a Vila Nova de Ourem e fica defronte do sitio denominado o Algar de Agua. Do lado direito é propriedade de Manoel Rodrigues [fl.74] de Vale de Ourem. Segundo marco. De forma quadrangular, ficando dusentos e vinte metros do primeiro marco na direcção norte, em terreno baldio, limitrofe dos concelhos [da] Batalha e Leiria, no denominado Covão da Figueira. Terceiro marco. De forma quadrangular, distante do segundo novecentos e noventa metros, com a letra B voltada ao poente e a letra L ao nascente no sitio denominado a Lagoa do Boi, tambem conhecido pela Pedrinha Alçada, em terreno baldio limitrofe da Batalha e Leiria. Quarto marco. De forma quadrangular, distante do terceiro novecentos e noventa metros, com a letra B ao poente e L ao nascente no sitio da Chousa Alagada em terreno baldio, limitrofe dos concelhos de Leiria e Batalha. Quinto marco. De forma quadrangular, distante do quarto seiscentos e desasseis metros no sitio da Vagem, com a letra L ao nascente e B ao poente, em terreno baldio, limitrofe dos concelhos de Leiria e Batalha. Sexto marco. De forma quadrangular, distante do quinto quinhentos e sessenta e oito metros com a letra L ao nascente e B ao poente no sitio denominado o Cazalinho, em terreno baldio, limitrofe dos referidos concelhos. Setimo marco. De forma quadrangular, distante do sexto mil e cem metros, com a letra B voltada ao poente e L ao nascente, no sitio denominado o Cabeço da Figueira, em terreno baldio limitrofe dos dictos concelhos.  
A Comissão ficou inteirada e conformou-se [com] as referidas divisão e demarcação. Por verdade e para contar, mandei passar a presente certidão que assino em Leiria na Secretaria Municipal, aos trese de maio de mil novecentos e vinte. Joaquim da Cunha Oliveira. Deliberaram finalmente que se enviasse uma copia ao excelentiss[im]o comandante da Guarda Republicana de Leiria e outra a Camara Municipal da Batalha.  
Como nada mais houvesse a tractar o presidente declarou encerrada a sessão, mandou lavrar esta acta que depois de lida vai ser assinada. Resalvo a entrelinha: 
Municipal.  
Presidente: José Vieira da Costa.  
Vice-presidente: Manoel Inacio Vicente.  
[fl.74v] Vogal: Joaquim Francisco.  
Vogal: Joaquim Francisco Lebre.  
Vogal: Jose d' Oliveira Rito.  

Vasco Jorge Rosa da Silva.
Paleógrafo e Epigrafista.
Leiria - Ourém

quarta-feira, 14 de junho de 2017

EPÍGRAFE DA FONTE DO CASTELO DE OURÉM: 1434

No interior do reduto amuralhado do castelo de Ourém, nas coordenadas geoespaciais norte 39º 38' 36,02'', latitude, oeste 8º 35' 29,57'', longitude, e 266 metros de altitude, à calçada da igreja de Santa Maria, encontra-se uma fonte em estilo gótico caracterizada por dois arcos ogivais, estando ainda provida de dois depósitos de água, para onde corre, por camadas, o fluido proveniente da bica. Por cima desta observa-se uma cercadura de formato retangular com o brasão do IV.º conde de Ourém, na parte superior, e uma epígrafe, na inferior. O epitáfio, de exigente leitura epigráfica, não é mencionado, em 1758, na memória paroquial de Ourém pelo cura, coadjutor da colegiada, Luís António Flores, que no mencionado texto deixou escrito, tão-só, o seguinte: «Com natural admiraçam por a villa ser por todas as partes levantada se conserva nella huma fonte publica com tanta abundansia de agoa que superabunda munto a necessaria para a villa em todo o tempo do anno, he a agoa de veram tomada quando corre de quallidade tam fria que por excesso ofende o paladar». [Vide: TT - Luís Cardoso, Dicionário Geográfico, vol. 26, n.º 51, p. 404]. A não referência por parte do clérigo ao objeto em análise poderá ter a ver, ainda que hipoteticamente, com o facto de: (1) as letras esculpidas serem de reduzida dimensão; (2) estas se acharem, em parte, ilegíveis; (3) a epígrafe estar em elevada posição relativamente ao solo. Todavia, no transacto dia 10 de junho de 2017, sábado, leu-se, com precisão, o seguinte: «Esta fonte mandou fa[zer] dom A[fonso] neto do mui nobre / rey d[om] Joham conde daquella vila a qual foy come / çada e acabada no ano da Era do nacimento / de Noso Senhor Jesu [Christo de] mil iiiic xxxiiii anos». 


Fig. 1 - Brasão e epígrafe existentes na fonte do castelo de Ourém. [Fotografia: 10 de junho de 2017, sábado, 18:09. Máquina: Canon PowerShot SX 170 IS, japonesa]. 

Vasco Jorge Rosa da Silva. Investigador em História. 
vascojrsilva@gmail.com

Encontrava-se presente, aquando da obtenção da imagem, a 10 de junho de 2017, Daniela Coutinho Marto, licenciada em Química. 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

DIAMANTINO DA PURIFICAÇÃO GORDO

Município de Leiria condecora ensaiador do Rancho Folclórico de São Guilherme (Santa Catarina da Serra). 

No transato 22 de maio, dia da cidade de Leiria, o Município, na pessoa do vereador Lino Dias Pereira, distinguiu, no Teatro José Lúcio da Silva, por volta das 11:15, o fundador e ensaiador do Rancho Folclórico de São Guilherme, Diamantino da Purificação Gordo (1946-), natural de Magueigia, residente em Quinta da Sardinha, União das Freguesias de Santa Catarina da Serra e Chainça, pelos 52 de anos de trabalho e dedicação ao folclore.

No ano de 1963, eram constituídos dois grupos folclóricos no concelho de Leiria: o Rancho Folclórico da Região de Leiria e o Rancho Infantil de Magueigia, primeiro, e de São Guilherme, depois. Estes são, hoje, os mais senectos conjuntos folclóricos do referido termo. Neste âmbito, Diamantino da Purificação Gordo, conselheiro da Federação do Folclore Português, teve (e mantém) uma posição de destaque no estudo e preservação dos usos e costumes dos antepassados que habitaram toda a região leiriense nos finais de oitocentos e primeira década do século XX.


Fig. 1 - Diamantino da Purificação Gordo, de Quinta da Sardinha, condecorado, e Lino Dias 
Pereira, de Cova Alta, vereador do Município de Leiria. [Foto: 22.5.2015, 11:25. 
Máquina: Canon PowerShot SX170 IS]. 

O Rancho conheceu, ab initio, uma projeção acentuada, designadamente no plano local e regional, tendo sido convidado para atuar em festas populares, mas também em hotéis e teatros. Seguiu-se, nos anos 70, um período de suspensão de atividades, devido à situação profissional do ensaiador. Na década de 80, novamente constituído, o Rancho tornou-se, paulatinamente, uma referência cultural na região centro. A partir dos anos 90, o grupo começou a diversificar as suas atividades, uma vez que o folclore não se limita aos cantares e às danças. Atualmente dispõe de uma sede e de um núcleo museológico e etnográfico. Editou, em 2014, um livro. Em 2017, o grupo remodelou o referido núcleo, edificou um bar e construiu um palco fixo. 

Vasco Jorge Rosa da Silva. Investigador em História. 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

MEMÓRIA PAROQUIAL DE FÁTIMA: 12.04.1758

No século XVIII há uma necessidade de melhor conhecer o Portugal de antanho. Assim, a partir de 1721, elementos da Real Academia da História procuram obter notícias, através de inquéritos, de modo a redigirem uma História Eclesiástica e Secular de Portugal, facto que, na prática, não se veio a verificar. Apesar de tudo, Luís Cardoso, padre, em 1747-51, na transição para o reinado de D. José (1750-77), tentou redigir o Diccionario Geografico. O trabalho não passou dos dois primeiros tomos, porque o sismo de 1755 destruiu parte significativa da informação. O religioso não desistiu do seu projeto e conseguiu autorização de Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782) para que se fizessem novos interrogatórios às paróquias do reino, os quais deveriam conter questões de índole administrativa, demográfica, religiosa, económica, histórica e até geográfica. João Pereira, cura de Fátima, respondeu como abaixo se segue. 


Doc. 1

1758, Abril 12, Fátima (Nossa Senhora dos Prazeres da Serra) - Memória Paroquial de Fátima, redigida pelo cura João Pereira

TT - Luís Cardoso, Dicionário Geográfico, vol. 15, n.º 29, pp. 167-175. 
Pub.: (1) SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "Memória Paroquial de Fátima: 1758", in Notícias de Fátima, edição n.º 492, sexta-feira, 19 de Março de 2010, p. 20; (2) SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "Serra de Aire em 1758", in Nova Augusta, Torres Novas, Câmara Municipal, 2010, n.º 22, pp. 69-70; (3) SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "Memórias Paroquiais de Ourém: 1758", in Nova Augusta, Torres Novas, Câmara Municipal, 2011, n.º 23; e (4) SILVA, Vasco Jorge Rosa da, Memória Paroquial de Fátima, Ourém, Câmara Municipal, 2012. 

Fatima. Termo de Ourem. Numero 29.
Informaçam da qual se da a mais clara noticia que pode descobrir o padre Joam Pereira parocho da freguezia de Fattima em observancia da vida e poder do excelentissimo reverendissimo bispo de Leiria, comendatairo de Ourem.
1. A freguezia de Fattima he termo da villa de Ourem pertense ao bispado provincia e comarca a que pertense a mesma villa.
2. Pertense ao mesmo senhor a quem pertense a villa de Ourem como explica o parocho della.
3. Tem duzentos e sincoenta e sinco fogos o numero de pesoas he outocentos e setenta.
4. Esta situada em planicie toda cercada de serra valles e outeiros descobren-se della alguns lugares da mesma freguezia que sam Mouta, Lombo de Egoa, Aljustrel, Eira da Pedra Montello, e Amoreira que distam da parochia hum quarto de legoa.
5. Nam tem termo seu o lugar da parochia [p. 168] chama-se Fattima tem trinta e quatro vezinhos. Lombo da Ovelha tem dois vezinhos. Lombo de Egoa tem treze vezinhos. Moutta tem vinte vezinhos. Aljustrel tem dezaseis vezinhos. Eira da Pedra tem outo vezinhos. Gesteira tem dezoito vezinhos. Cabeça da Pederneira tem onze vezinhos. Chans tem sinco vezinhos. Currais tem tres vezinhos. Buleiros tem trinta vezinhos. Machieira tem des vezinhos. Cazal do Farto tem quatro vezinhos. Posso do Soudo tem tres vezinhos. Valle de Cavallo tem doze vezinhos. Pedreira tem seis vezinhos. Carapeto tem sinco vezinhos. Mouttas tem outo vezinhos. Gaiolla tem quatro vezinhos. [p. 169] Valle do Porto tem tres vezinhos. Ramilla tem sete vezinhos. Lomba tem tres vezinhos. Alveijar tem quatro vezinhos. Cazal de Santa Maria tem hum vezinho. Ortiga tem hum vezinho. Amoreira tem doze vezinhos. Montello tem doze vezinhos.
6. A parochia esta dentro do mesmo lugar de Fattima e consta a freguezia de vinte e sete lugares que sam Fattima, Lombo da Ovelha, Lombo de Egoa, Moita, Aljustrel, Eira da Pedra, Gesteira, Cabeça da Pederneira, Chans, Currais, Buleiros, Machieira, Cazal do Farto, Posso do Soudo, Valle de Cavallo, Pedreira, Carapeto, Moutas, Gaiolla, Valle do Porto, Ramilla, Lomba, Alveijar, Cazal de Santa Maria, Ortiga, Amoreira, e Montello.
[p. 170] 7. Nossa Senhora dos Prazeres he o orago da freguezia, tem a igreija quatro altares altar-mor em que esta o Santissimo Sacramento Nossa Senhora dos Prazeres, e Santissima Trindade, e Sam Gregorio altar de Nossa Senhora do Rozario em que esta a imagem da mesma Senhora, Santo Amaro, e Sam Jose e altar de Santo Antonio em que esta a imagem do mesmo santo Sam Sebastiam e Sam Silvestre no altar das Almas, em que esta a imagem do Bom Jezuz tem seis irmandades huma de Nossa Senhora dos Prazeres, outra do Santissimo Sacramento, outra de Nossa Senhora do Rozario, outra das Almas, outra de Santo Antonio, outra de Sam Sebastiam. A igreija tem só huma nave.
8. Tem cura de aprezentação annual a [p. 171] qual pertense ao cabbido da collegiada de Ourem tem de rendimento outenta mil reis.
13. Tem sete capellas que sam Nossa Senhora da Ortiga a qual tem tres imagens huma de apresentação com o titulo da Ortiga, Sam Vicente Martir e Santa Catarina. Tem outra capella particular do lugar das Moittas na qual esta a imagem do Bom Jezuz e pertence ao padre Joze Sebastiam do mesmo lugar tem outra capella particular no Posso do Soudo na qual esta a imagem de Nossa Senhora da Esperança e pertense a Joam dos Reis do mesmo lugar tem outra capella particular no Cazal do Farto na qual esta a imagem de Nossa Senhora do Rozario e pertense a Joam Rodrigues do mesmo lugar tem outra [p. 172] capella dentro do lugar de Buleiros que pertense ao povo na qual esta a imagem de Santa Barbara tem outra capella junto ao lugar de Montello que pertense ao povo na qual esta a imagem de Nossa Senhora da Vida tem outra capella no lugar da Moutta na qual esta a imagem de Santa Luzia e pertense ao povo.
14. Destas capellas somente a de Nossa Senhora da Ortiga he frequentada pellos fieis todos os sabados do anno. 


Fig. 1 − Capela de Nossa Senhora da Ortiga, freguesia de Fátima, Ourém. A 12 de abril de 1758, o templo estava provido de três imagens de culto: Nossa Senhora da Ortiga, padroeira, São Vicente e Santa Catarina. A localidade tinha, tão-só, 1 «vizinho», fogo, ou seja, cerca de 3-4 habitantes. [Fotografia obtida pelo autor, às 16:15 horas, do dia 12 de setembro de 2009, sábado. Máquina: Leica D-Lux 3. Posição: Norte 39º 36' 21,19'', latitude, Oeste 8º 37' 32,19'', longitude, e 320 metros de altitude]. 

15. Os frutos que se colhem na freguezia com mais abundancia sam trigo, sevada e azeite.
16. Esta sugeita as mesmas justiças [p. 173] a que esta sugeita a villa de Ourem o que explica o parocho da mesma villa.
20. Serve-se do correio de Ourem o qual chega a villa de Ourem a quarta-feira.
21. Dista da cidade de Lisboa vinte e huma legoas e da cidade de Leiria capital do bispado tres legoas.
23. Ha na freguezia hum posso no lemite de Buleiros que a agoa delle he tam crua que nam coze cebolla.
26. No terramoto de mil setecentos e sincoenta e sinco so alagaram nesta freguezia humas cazas as quais agora sam ja reparadas e outras padecerão alguma ruina e de resam do mesmo teor.
[p. 174] 1. No fim desta freguezia para a parte do Nascente esta huma serra que se chama a serra d' Aira a qual divide o termo de Ourem do termo de Torres Novas e he tam alta que dizem estando o tempo claro se ve della a torre de Sam Vicente da cidade de Lisboa, e as torres da igreija de Nossa Senhora de Nazareth que dista da mesma Serra sete legoas e he tam comprida que dizem começa pello reino de Fransa treze legoas.
7. Nesta freguezia no lemite da Machieira ha uma canteira de pedra branca da qual sahem todas as pedras necessarias para a collegiada da villa de Ourem.
8. A maior abundancia que tem esta [p. 175] freguezia he de alecrim e nam tem plantas speciais e se cultiva em algumas partes e a maior abundancia que colhem os moradores deste termo he trigo sevada, e azeite.
10. A qualidade do temperamento della he salutifero.
11. Nesta terra ha creaçoens de gados meudos mas em pouca abundancia.
12. Tem huma lagoa* sem specialidade alguma mais que conservar agua todo o anno e serve de grande utilidade para os gados beberem.
Joam Pereira cura nesta parochial de Fatima declaro que tudo o que fica declarado he o que pude averiguar desta freguezia conforme os interrogatorios e por verdade me assigno. Fatima 12 de abril de 1758. 
(Assinatura) O cura Joam Pereira.

* A lagoa referida no texto é a da Carreira e ficava situada junto à rotunda sul, Cova da Iria, Fátima. Por aí passavam, frequentemente, Lúcia de Jesus dos Santos e os primos Francisco e Jacinta Marto. 



Vasco Jorge Rosa da Silva. Investigador em História. Leiria-Ourém.

Researcher in Local and Regional History.